quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Figuras de Linguagem - Figuras de Palavra II

Identificamos no post anterior as figuras de palavra decorrentes das relações de similaridade e comparação. Ainda nos faltam estudar duas delas.

A palavra contiguidade parece estranha até pra mim e dá vontade de usar o corretor automático para corrigir, mas é isso mesmo: contiguidade. Segundo o dicionário, é o estado daquilo que é contíguo, adjacente, próximo, semelhante, vizinho. Agora ficou mais fácil, né? Não? Ok, vamos aplicar a uma frase:
Odeio ter que ler Machado de Assis para não repetir na escola.
Provavelmente você não deve ter notado, mas há algo até engraçado na frase acima. Imagine Machado de Assis. Sim, aquele cara mulato barbudo com óculos das fotos. Agora o imagine com letras pelo corpo todo, totalmente escrito e alguém lendo sua pele. Uma situação no mínimo inusitada. Quem afirmou a frase não quis dizer isso exatamente, devia estar se referindo a obra de Machado, mas optou por substituir a obra pelo autor. Que tipo relação essas palavras possuem entre si? Similiridade? O autor e a obra têm características semelhantes? Acho que não. Comparação? Hm, muito menos. Associação? Ainda nem vimos isso! Só pode ser a tal da contiguidade. O autor e a obra possuem sentidos próximos, adjacentes, vizinhos, uma relação contígua, como se houvesse algo que ligasse as duas, uma interdependência entre elas. Quando isso ocorre, dizemos que se trata de uma metonímia.
6. METONÍMIA
Só para efeito de organização do post, vou repetir a definição de metonímia. É a figura de consiste na substituição de uma palavra por outra em razão de haver entre elas uma relação de interdependência, de contiguidade, de proximidade. São muitos os tipos que uma metonímia pode assumir, vamos exemplificar alguns.

  • "Senhora, partem tão tristes
    Meus olhos por vós, meu bem" (João Ruiz de Castelo Branco)
    Parte (olhos) pelo todo (pessoa que parte)
  • Ler Marx engrandece a alma do ser humano.
    Autor (Marx) pela obra (sua literatura)
  • Alguém tem uma gilete por aí?
    Marca (gilete-Gilette) pelo produto (lâmina de barbear)
  • Estou com uma vontade de tomar um copo de leite.
    Continente (copo) pelo conteúdo (leite)
  • Não fume dentro da minha casa, sou alérgica a cigarro.
    Causa (cigarro) pelo efeito (fumaça)
  • Seus cabelo brancos exigiam respeito.
    Efeito (cabelos brancos) pela causa (velhice)
  • Para de ser corinthiano!
    Abstrato (corinthiano) pelo concreto (burrice)
  • Não duvide do espírito de vingança dos mortais.
    Gênero (mortais) pela espécie (seres humanos)
  • A mulher foi chamada às ruas na luta por seus direitos.
    Singular (a mulher) pelo plural (as mulheres)
Ainda há:
  • Possuidor pelo possuído
  • Matéria pelo objeto
  • O lugar pelo produto dele
  • Instituição pelo que representa
  • O inventor pelo invento
  • A matéria pelo objeto
  • A forma pela matéria
  • Indivíduo pelas classes
  • Instrumento pela pessoa que utiliza
  • Símbolo pelo objeto simbolizado
  • Símbolo pela coisa simbolizada
    Ufa...
Não há mais distinção entre metonímia e SINÉDOQUE, havendo entre ambos relação de extensão. Por ser mais abrangente, o conceito de metonímia prevalece sobre o de sinédoque.
7. ANTONOMÁSIA
Não deixa de ser mais um tipo de metonímia. É a substituição de um nome próprio por um atributo conhecido. Por exemplo:
  • Filho de Deus (Jesus Cristo); Rainha do pop (Madonna); Rainha dos baixinhos (Xuxa); Poeta dos escravos (Castro Alves); Boca do Inferno (Gregório de Matos), etc.
Alguns autores costumam separar a antonomásia da PERÍFRASE. Caso haja distinção, a perífrase está relacionado a lugares, enquanto a antonomásia a pessoas e instituições. Por exemplo:
  • Rei do Futebol (Pelé); Porco (Sociedade Esportiva Palmeiras); Poeta da Vila (Noel Rosa) -->; Antonomásia
  • Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro); Terra da Garoa (São Paulo); País do Futebol (Brasil) -->; Perífrase
8. HIPÁLAGE
Tipo desdobrado da metonímia que consiste em atribuir a um ser ou coisa uma qualidade ou ação logicamente pertencente a outro ser. Eça de Queirós quando escreveu "“As tias faziam meias sonolentas.”, mesmo sonolentas estar se referindo sintaticamente a meias, semanticamente é uma atribuição das tias, elas que de fato estavam sonolentas. Exemplos:

Exemplos na literatura: 
  • "fumar um pensativo cigarro" (Eça de Quirós)
  • "Abria os olhos molhados de culposas lágrimas." (Camilo C. Branco)
Exemplos na não-literatura:
  • À meia noite, o lápis e a borracha mostravam sinais de cansaço.
  • Um enxame negro de gafanhotos rapidamente devastou a colheita..
9. FIGURAS DE ASSOCIAÇÃO
Podemos citar algumas figuras que possuem um relação de associação, como a ALUSÃO, a ALEGORIA e o SÍMBOLO ou EMBLEMA. Algumas possuem um caráter metafórico, mas o importante é que remetem a ideiais, conceitos, filosofias, qualidades, ações amplos num universo mais restrito. Todas consistem um exprimir uma ideia em outro plano, seja fazendo uma referência ou uma representação de algo. Exemplicar essas figuras é complicado, pois raramente se mostram em poucas palavras, geralmente são identificados como se a víssemos de cima. Parece vago? Pois está mesmo, se precisarem, dedico um post inteiro a essas figuras, mas imagino que por hora já está bom.

Obrigado por ler!
James Juice

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