segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Trovadorismo

Agora um pouquinho de literatura!

TROVADORISMO é uma expressão literária medieval e vem da palavra francesa trouver, que significa "achar". Ok, é um pouco estranho isso, mas para eles seria "achar" sua canção. Portanto, o Trovadorismo se baseia em cantigas, que eram poesias cantadas e tocadas com cítara, viola, lira ou harpa, em galego-português (português arcaico), que mais tarde se separou em galego e português. É a primeira manifestação literária portuguesa, datada entre os anos 1189 (ou 1198?), provavelmente a data da Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós (considerada a mais antiga obra trovadoresca), e 1385, fim da dinastia de Borgonha, ou seja, corresponde à primeira fase da história de Portugal: o período de formação como reino independente.

É sempre bom saber o contexto histórico para entender melhor a mentalidade dos artistas da época, o motivo de escrever o que escreviam.

Contexto Histórico
  • 1095: O rei Afonso VI, de Leão e Castela, concede o condado Portucalense a seu genro, Henrique de Borgonha.
  • 1109 - 1385: Disnastia de Borgonha. Declínio do feudalismo.
  • 1139: D. Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, após vencer os mouros em batalha, declara a independência do condado Portucalense e proclama-se rei. É o início da 1ª dinastia.
  • 1143: Reconhecimento da independência de Castela (tratado de Zamora).
  • 1385: Fim da Revolução de Avis; D. João I é aclamado rei de Portugal; início da dinastia de Avis.
Nesse período, importantes aspectos surgiram, fundamentais para entendermos as características do Trovadorismo:
  • O feudalismo, mesmo em declínio, se mostra importante uma vez que muitas cantigas eram destinadas à corte, senhores feudais, cantadas à nobreza com um clima todo aristocrático.
  • As Guerras de Reconquista, realizadas desde o século VIII com o intuito de expulsar os mouros (árabes) do território ibérico, fazem florescer o espiríto guerreiro e aventureiro das Cruzadas e, consequentemente, o gosto pelas novelas de cavalaria.
  • O teocentrismo, como profundo espírito medieval, reflete-se tanto nas novelas de cavalaria, já citadas, como nas cantigas com temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X), nas hagiografias (biografia de santos) e obras de devoção.

Agora que você já entendeu, pelo menos, um pouco do que a Europa, mais especificamente Portugal (afinal, é literatura portuguesa que cai nos exames), estava passando, chegou a hora de saber as características do Trovadorismo na:

POESIA

É super simples de lembrar. Na poesia, o Trovadorismo se baseia em cantigas. Isso mesmo, tipo as que cantavam para você quando criança. Só que o tema muda. Em vez de cantar que a cuca vem te pegar, eles cantavam sobre amor, por exemplo. No geral, era sobre amor, mas há quatro tipos de cantigas: Cantigas de Amor, Cantigas de Amigo, Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer. Para explicar melhor, fiz uma tabela (baseada na Apostila Caderno 1 - Revisanglo Semi):A tabela ficou um pouquinho distorcida, mas dá para tirar algumas conclusões a partir dela. Bem, na verdade, acho que está bem explicado, mas é sempre bom esclarecer eventuais dúvidas. É tudo muito lógico:

As cantigas de amor eram escritas para cantar num ambiente cortês, para senhores feudais, portanto tinham que ser bem trabalhadas, monótonas, sem muita extravagância, cujo tema era um pobre trovador que sofre por um amor (coita) idealizado, inatingível. Como era um amor impossível, ele se colocava numa posição abaixo da mulher, tratando-a como senhora, ou senhor, mia senhor, uma vassalagem amorosa. Imagine, agora, um grupo de desocupados cantando umas cantigas de fossa amorosa para o senhor feudal, todo mundo devia dormir. Dica: Sempre que estiver escrito as palavras coita, senhor(a), ela vai ser de amor.

Já as cantigas de amigo não são sobre a amizade. Amigo significa "namorado". Eram cantadas na roça de Portugal pelo povão, então tinha música, dança, canto e, provavelmente, muita bebida e mulher. O tema era o sofrimento de uma jovem moça que espera por seu namorado que não vem (geralmente, saiu em viagens marítimas e morreu), retratando com realismo a vida cotidiana, fatos comuns daquela época. Eram cantigas simples e com muitos paralelismos, justamente para o povão cantar junto. Paralelismo é quando se repetem alguns versos, de modo com que, quem está ouvindo, saiba qual será o próximo verso, deu pra entender? Era tipo um show de pagode medieval. Em geral, o eu-lírico era feminino, mas sempre quem cantavam eram homens.

Agora, cantigas de escárnio e maldizer são praticamente a mesma coisa! São cantigas que criticavam alguém ou a sociedade mesmo. A diferença é que na de escárnio, as críticas são indiretas, usando ironias, deve ser porque iria apanhar de alguém; na de maldizer, o cara esculachava mesmo, falava o nome de todo mundo, punha a boca no trombone e falava até palavrão!

Quem cantava? As cantigas eram compostas pelos trovadores, mas cantadas e interpretadas pelos chamados Menestréis, Jograis, Segréis.

Aonde estão guardadas essas cantigas? Só tardiamente (a partir do final do século XIII) as cantigas foram copiadas e colecionadas em manuscritos chamados cancioneiros. Três desses livros, contendo aproximadamente 1 680 cantigas, chegaram até nos: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana, Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa.

Quem escrevia? Os trovadores mais conhecidos são D. Sancho I, D. Afonso X, Martim Codax e D. Dinis (o rei trovador)

PROSA

A prosa é mais fácil ainda: baseava-se nas Novelas de Cavalaria. O vigor que a Europa passava com as Cruzadas se refletiu na literatura, trazendo narrações sobre valentes cavaleiros em histórias fantásticas com feras selvagens e donzelas em perigo, cujas conquistas proporcionava-lhes prestígio social! A origem das novelas de cavalaria está nas Canções de Gesta, canções (jura?!) que celebravam atos heroicos e guerreiros.

Também desenvolveram-se as Hagiografias e os Livros de Linhagem (registros de nascimentos e casamentos da nobreza).

É só.

Obrigado por ler!
James Juice




Referência: ANTÔNIO, Severino; LEITE, Ricardo; FERREIRA, Mauro; AMARAL, Emília. Novas Palavras. FTD. São Paulo. 2ª Edição. 2003

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